quinta-feira, 20 de março de 2014

Aquele senhor do outro lado da rua

 



           
         Como de costume, após um dia de cinco aulas, eu e meus amigos caminhamos até a esquina conversando, fazendo piadas, sendo idiotas como adolescentes costumam ser. Na esquina paramos todos em - o que de longe eu imagino ver - um bolinho de jovens se despedindo um dos outros. 
        Logo após dar tchau eu desço em direção ao Minhoção e a maioria vai pra Angélica. Descendo a rua com meus fones de ouvido tocando, quase sempre, Imagine Dragons.  Eu checando a área olho o outro lado da rua e vejo uma figura com cabelos grisalhos puxados para trás, camisa azul solta, uma calça marrom e óculos quadrados apoiados sob o nariz. Aquela imagem era... Gritante, digamos assim. O senhor estava sentado em um banco em frente à um lugar que futuramente será um prédio. Ele parecia tão cansado e tão estranho. As pessoas passavam na frente dele e nenhum músculo se movia, tanto que ninguém parecia reparar nele. Ele estava numa postura rígida que só de ver já era cansativo.

       Mas deixe-me explicar porque "gritante" é a palavra que eu usei pra descreve-lo. Ele estava sozinho, quieto olhando para lugar nenhum, ele tinha uma face cansada, seu corpo parecia cansado mantendo aquela postura ereta, ele me lembra um personagem de um filme (que agora não lembro o nome), no qual em uma cena melancólica, aparece um senhor sentado em uma cadeira com a postura cansativamente reta, olhando pro nada. Esse senhor (o do filme) estava sendo consumido por agonia, os olhos dele antes do zoom out estavam gritando por ajuda, mas o único problema é que não havia ninguém pra ajudar e como os olhos não podem gritar emitindo sons, também não havia ninguém pra ouvir. Aquele senhor do outro lado da rua parecia gritar apenas por sua postura, mas acho que as pessoas que passavam na sua frente estavam muito cegas pra vê-lo e eu estava muito longe, distante, quase como se fossemos de mundos diferentes.
   Aquele senhor do outro lado da rua me intrigava, distorcia meu olhar apenas pra ele, porque acho que eu fui a única pessoa que parecia perceber que ele estava cansado e assim como o senhor do filme, estava prestes a ser engolido pela agonia.
   Desci mais a rua, já não dava mais pra virar e ver aquele senhor, que na frente de um prédio em construção do outro lado da rua gritava. Agora não havia eu para reparar nele, ouvi-lo. Agora ele era apenas o senhor do outro lado da rua, que não grita, não cansa, não sente, não olha.

Um comentário:

  1. Belo texto, você está bem boa de finais.
    A descrição das besteiras que vocês fazem enquanto voltam da escola marecia ser mais concreta, já acompanhei vocês e é bem impressionante o nível de besteirada, ficaria legal contar, ao invés de falar de maneira genérica de coisas que os adolescentes fazem.
    Também dê um jeito de lembrar do filme, faça uma enquete em casa, pesquise, isso deixará sua crônica mais sólida, cite.
    No mais, a ideia do homem paralisado que grita, se alguém souber ouvir é muito boa.
    Há uma questão com os pronomes no final:
    agora que não havia eu para reparar NELE. Ouvimos está ok. Alguns acentos estão faltando também.
    No mais, ótimas descrições. E você está boa de finais.
    Lu

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